quarta-feira, 30 de junho de 2010

O meu coração arde como fogo

Soyen Shaku (1859-1919), um roshi, mestre do Zen-budismo japonês da escola Rinzai, disse um dia:

«Meu coração arde como fogo. Mas meus olhos são frios como cinzas mortas».

Ele propôs as seguintes regras de vida:

De manhã, antes de vestir-se, acenda incenso e medite.
Coma a intervalos regulares e deite-se a uma hora regular.
Coma sempre com moderação e nunca até ficar plenamente satisfeito.
Receba as suas visitas com a mesma atitude que tem quando está só.
E, quando só, mantenha a mesma atitude que tem quando recebe visitas.
Preste atenção ao que diz e, o que quer que diga, pratique-o.
Quando uma oportunidade chegar, não a deixe passar,
mas pense sempre duas vezes antes de agir.
Não se deixe perturbar pelo passado. Olhe para o futuro.

A sua atitude deve ser a de um herói sem medo,
mas o coração deve ser como o de uma criança, cheio de amor.
Ao retirar-se, ao fim do dia, durma como se tivesse entrado no seu último sono.
E, ao acordar, deixe a cama para trás,
instantaneamente,
como se tivesse deitado fora um par de sapatos velhos.

Tudo é melhor

Quando Banzan passeava num mercado, ouviu uma conversa entre o carniceiro e um cliente.

- Dê-me o melhor bocado de carne que tem, disse o cliente.

- Na minha loja tudo é o melhor, respondeu o carniceiro.
Não encontrará aqui nenhum bocado de carne que não seja o melhor!

Ao ouvir estas palavras, Banzan tornou-se um iluminado.

Temperamento

Um estudante de Zen foi ter com Bankei e queixou-se:
- Mestre, Tenho um temperamento ingovernável. Como posso curá-lo?
- Tens uma coisa muito estranha, replicou Bankei. Mostra-me lá então isso que tens.
- Neste preciso momento não lhe posso mostrar, respondeu o outro.
Acontece inesperadamente!…, respondeu o estudante.
- Então, concluiu Bankei, não deve ser a tua verdadeira natureza.
Se fosse, podias mostrar-me em qualquer altura.
Quando nasceste não o tinhas e não foram os teus pais que to deram.
Pensa nisso.

Parábola de Buda

Ao atravessar um campo, um homem encontrou um tigre.
Fugiu a sete pés, com o tigre atrás dele.
À sua frente encontrou um precipício em que acabou por cair.
Mas conseguiu agarrar-se à raiz de uma velha videira
e ali ficou pendurado, com o tigre a cheirá-lo.
Tremendo de medo, olhou para baixo e viu outro tigre, lá longe em baixo,
que o esperava, cheio de apetite.
Só mesmo a videira lhe estava a salvar a vida.
Mas apareceram dois ratos, um branco e outro preto,
que pouco a pouco começaram a roer a raiz da videira.
Foi só nesse momento que se apercebeu que,
mesmo ao pé da raiz, estava um morango apetitoso.
Agarrando-se à videira com uma mão, colheu o morango com a outra.
E nunca um morango lhe soube tão bem!